«Queríamos uma editora que descansasse os grandes leitores». Durante 20 anos a Cavalo de Ferro tem feito este trabalho continuado de cuidar dos leitores mais exigentes, servindo-lhes um catálogo fruto de escolhas criteriosas. A par com Hugo Xavier, em 2003, e a solo desde 2008, Diogo Madre Deus é o rosto de uma chancela que soube distinguir-se das demais. Design caprichado, paginações atentas, traduções do original — foram vários os ingredientes que permitiram criar uma identidade Cavalo de Ferro. «Na altura, o mercado editorial estava a passar por uma grande transformação e havia algum descuido em relação à ficção literária e aos grandes autores. Não nos teríamos afirmado tão rapidamente se não houvesse um espaço por ocupar.»
Sem uma estrutura sólida à sua volta, algo que viria a suceder mais tarde, os primeiros tempos da editora fizeram-se de fé na Literatura. «Não tínhamos nada, não tínhamos dinheiro, sequer… tínhamos uma enorme vontade de não querer que os outros fizessem por nós.» Essa vontade permitiu que a editora chegasse a 2023 com um catálogo de ferro, um catálogo de referência, no qual há muitos autores incontornáveis — Canetti, Cortázar, Tokarczuk, Laxness —, cada vez mais amplo, mas alvo do mesmo cuidado de sempre. E que é muito fruto das escolhas pessoais do seu editor. «Publico coisas de que gosto. E muito raramente coisas que não seriam primeiras escolhas, mas às quais reconheço qualidade e interesse para outros leitores. Tenho muitas vezes esse debate com o espelho: livros muito elogiados, muito recomendados, com qualidade literária, mas de que, por algum motivo, não gosto… ficas ali a debater contigo próprio: quem és tu para dizer não?»
Ao longo destes anos, o trabalho de editor também mudou consideravelmente — Diogo veio da edição independente e neste momento faz escolhas numa estrutura multinacional. No entanto, a natureza básica da tarefa não se alterou. «O trabalho de um editor é, sem dúvida, o de um leitor experiente.» Vinte anos volvidos, pode-se fazer um balanço síntese. «Durante este período, a minha principal preocupação foi manter a coerência. Acho que isso foi conseguido.»
