Se havia quem não conhecesse Olive Kitteridge, passou a saber quem ela era quando, em 2014, seis anos depois do lançamento do livro, a HBO produziu uma série com o mesmo nome. Oito Emmys, foi quanto arrecadou a adaptação. A obra na qual se baseou também já tinha dado o Prémio Pulitzer à autora, Elizabeth Strout.
Aos 66 anos, a escritora norte-americana é um dos nomes mais conceituados da atualidade. Oh, William! é o seu romance mais recente, uma história de amor, perda e segredos de família que encerra uma trilogia começada com O meu nome é Lucy Barton.
Apesar dos inúmeros prémios que tem vindo a acumular e das críticas sólidas à sua escrita, nem sempre Elizabeth Strout teve o sucesso que merecia. Só em 1998 é que conseguiu publicar o primeiro romance e, até aí, nem dizia que escrevia – tinha vergonha do fracasso.
Foi empregada de mesa e advogada e até a ideia para Oh, William! chegou de forma inesperada. A Penguin Magazine conta-lhe cinco histórias sobre a incrível Elizabeth Strout.
Laura Linney merece um agradecimento
Elizabeth Strout estava sentada na plateia de um teatro da Broadway, em 2018, durante um ensaio da adaptação para teatro de O meu nome é Lucy Barton. Em cena entrou Laura Linney, a protagonista. Puxou os óculos que trazia na cara para cima da cabeça e começou a balbuciar qualquer coisa sobre William como “talvez tenha tido um caso extraconjugal”.
“Oh, William!”, exclamou Strout, como se, de repente, tivesse tido uma epifania perante aquele cenário. O ex-marido de Lucy Barton merecia uma história, percebeu ela. Foi nesse momento que a autora começou a pensar no livro publicado agora em Portugal pela Alfaguara.
Quanto a Linney, não tem qualquer recordação do dia em que foi a responsável pelo nascimento da obra. “A Laura não tem memória nenhuma daquele momento. Estava no espaço dela, a fazer fosse o que fosse que estava a fazer”, contou Elizabeth Strout numa entrevista dada ao jornal “The Guardian” em 2021.
Vergonha de ser escritora
Sempre soube que queria ser escritora mas, enquanto crescia, não partilhava esse sonho com ninguém. Mesmo em adulta, podia contar pelos dedos de uma mão as pessoas que sabiam que ela escrevia. “Durante muito tempo considerava que tinha três empregos. Professora [na Universidade Pública de Manhattan, escritora e mãe. Sentia que as pessoas respeitariam a parte de professora. Há anos que escrevia e não contava a quase ninguém porque não conseguia publicar nada e era embaraçoso dizer que era escritora”, explicou à revista “Entertainment Weekly”.
De empregada de mesa a secretária
Cresceu em pequenas cidades do estado de Maine, EUA. O pai era professor de Ciências e a mãe ensinava Inglês. Estudou na Universidade de Lewiston e passou um ano em Oxford, Inglaterra, mas sonhava com Nova Iorque.
Quando se mudou para lá, arranjou vários trabalhos para conseguir pagar as contas. Foi empregada de mesa num bar, secretária num escritório, mais tarde advogada e professora universitária. Fazia tudo isto enquanto escrevia pequenas histórias que publicava em revistas literárias. O sucesso era nulo.
Senhora advogada
Formou-se em Direito na Universidade de Syracuse, Nova Iorque. Chegou a exercer durante seis meses e só não continuou mais tempo porque um corte no orçamento do escritório onde trabalhava ditou o fim do seu contrato.
Finalmente, o reconhecimento
Demorou sete anos a concluir Amy and Isabelle, o seu primeiro romance. Publicado em 1998, foi de imediato aclamado pela crítica, recebendo vários prémios. Foi adaptado para televisão através dos estúdios Harpo, de Oprah Winfrey. A partir daí, o nome Elizabeth Strout começou a ganhar balanço e a sua obra explodiu.
Olive Kitteridge apareceu em 2008 e deu-lhe um Pulitzer – uma distinção com a qual a autora não soube lidar durante muito tempo, desvalorizando o prémio cada vez que era questionada sobre ele. O meu nome é Lucy Barton começou uma trilogia, em 2016, que continuou um ano depois com Tudo é possível, terminando com Oh, William!. Todos fazem parte do catálogo da Alfaguara.