O ano era 2017 e algo estava prestes a mudar. Avizinhava-se uma descoberta, o início de uma nova era na cultura mediática, anunciada por Timothée Chalamet e Armie Hammer. Em novembro desse ano, estreava Chama-me pelo teu nome, a adaptação ao cinema do romance de André Aciman, que já tinha sido publicado uma década antes. A mensagem era clara: estava na altura de passar o holofote a quem tanto esperou por ele. Ainda que o amor heterossexual nunca tivesse saído de cena, o queer começou a ganhar espaço – não só no cinema e na televisão, como na literatura. Autores como Adam Silvera, que publicou O primeiro a morrer no final em 2023 e Tudo o que restou de nós em 2017, e Kevin Panetta, autor da novela gráfica Bloom, surgiram com cada vez mais frequência para contar as histórias de amor de personagens que fogem à heteronormatividade. Já em junho deste ano, será lançado Pageboy, um livro de memórias de Elliot Page, em que o autor conta a sua jornada de transição.
Embora haja uma inclinação para categorizar esta mudança como uma tendência (leia-se: passageira), o rápido crescimento de conteúdos deste género é apenas evidência de um acordar em massa que já tinha dado sinais. Já em 1956, James Baldwin escreveu sobre a luta interior da não aceitação da sexualidade do próprio em O quarto de Giovanni. A particularidade do romance LGBTQIA+ é que não é, de todo, uma tendência: é um grito de libertação de uma comunidade que reivindica a representatividade que lhe é devida. Para Rodrigo Manhita, editor de Young Adult na Penguin Random House, foi a ver uma história de amor queer que deu por si a pensar pela primeira vez «”eu podia estar no lugar daquela pessoa” ou “é com este tipo de história que eu quero sonhar e imaginar-me”». A representatividade na literatura é, para Rodrigo, essencial, no sentido em que «é uma forma de não só fazer dos livros um melhor espelho do mundo, como de normalizar as diferentes sexualidades». Mais do que isso, o jovem editor diz que os primeiros contactos que teve com personagens LGBTQIA+ lhe permitiram «conhecer-me melhor e saber melhor quem sou». E, afinal, não é para isso que servem as histórias?