O imprescindível artista chinês Ai Weiwei regressa ao formato livro para contar-se. Neste impressionante e comovente regresso à sua infância e à infame Revolução Cultural, Ai Weiwei debruça-se sobre a ligação entre expressão artística e liberdade intelectual, servindo-se das constelações do Império do Meio para uma reflexão profunda sobre arte, cultura, política e sociedade.
O artista e as suas circunstâncias
Ai Weiwei é um artista prolífico com uma obra diversa, que cria recorrendo a diferentes meios, como a instalação, a realização cinematográfica, a fotografia, a cerâmica, a pintura, a escrita ou mesmo as redes sociais. Nascido em Pequim, na China, em 1957, é um artista conceptual que convoca para o seu trabalho o artesanato tradicional e a sua herança chinesa, fazendo uso livre de uma série de linguagens formais para refletir sobre o contexto geopolítico e sociopolítico contemporâneo. Obra e vida do artista cruzam-se e influenciam-se mutuamente, acabando muitas vezes por enformar o seu ativismo e a sua luta pela defesa dos direitos humanos internacionais.
Ai Weiwei era ainda uma criança quando teve de se exilar, com a família, durante a Revolução Cultural. Foram várias as vezes em que a única coisa que tinha para ler eram as bandas desenhadas de propaganda política – e ficou espantado pela habilidade com que os artistas ao serviço de Mao exprimiam ideias sobre arte e humanidade através de uma narrativa gráfica. Hoje, décadas depois, Ai Weiwei apresenta Zodíaco, as suas memórias em formato de novela gráfica.
Um livro e o seu zodíaco
Atribui-se ao Imperador de Jade, senhor dos céus na mitologia chinesa, a criação do famoso zodíaco. Na origem, esteve i processo de seleção de 12 animais, que viriam a ser os seus guardas. Para tal, organizou uma competição: os animais que fossem mais lestos a cruzar o Portão Celestial, garantiriam as melhores posições e estatuto. O Rato levantou-se muito cedo. No seu caminho para o portão, encontrou encontrou um rio. Teve de parar devido à corrente rápida. Depois de esperar muito tempo, o Rato viu o Boi que ia atravessar o rio e saltou rapidamente para o seu ouvido. O diligente Boi não se importou e simplesmente continuou. Depois de atravessar o rio, correu em direção ao palácio do do Imperador de Jade. De repente, o Rato saltou da orelha de Boi e correu para os pés do Imperador, vencendo a contenda. O Boi foi segundo e o Tigre e o Coelho garantiram terceiro e quarto lugares, porque ambos são rápidos e competitivos. O Dragão ficou em quinto lugar e foi imediatamente notado pelo Imperador de Jade, que disse que o filho do Dragão podia podia ser o sexto. A Serpente, fazendo-se passar por filha adotiva do Dragão, ficou com a sexta posição. Depois, chegaram Cavalo e Cabra, animais gentis e modestos. O Macaco tinha ficado muito para trás, mas saltando entre árvores e pedras ganhou, ficando em nono lugar. Os últimos lugares ficaram para o Galo, o Cão e o Porco, animal que também encerra este Zodíaco de Ai Weiwei.
Inspirando-se nos 12 signos do zodíaco chinês e nas respetivas características humanas, o autor entrelaça o antigo folclore chinês em histórias da sua vida, família e carreira. A narrativa alterna entre passado, presente e futuro, emulando o funcionamento da nossa memória e a forma como nos relacionamos com o tempo. Nas impressionantes ilustrações de Zodíaco, os leitores encontrarão não apenas a história pessoal de Ai Weiwei e uma análise do clima sociopolítico no qual desenvolve a sua atividade criativa, mas também uma exploração filosófica do que significa descobrirmo-nos através da arte e da liberdade de expressão. Contemplativo e político, Zodíaco inspira os leitores a regressar, uma e outra vez, às reflexões de Weiwei sobre a arte, o tempo e a humanidade que todos partilhamos, voltando a afirmar-se como artista especialmente relevante e protagonista da contemporaneidade, muito além do universo puro e duro da criação.
Os coautores
Elettra Stamboulis é uma escritora e curadora de arte greco-italiana. Escreveu várias novelas gráficas e bandas desenhadas publicadas em diferentes línguas. É especialista em bandas desenhadas baseadas em factos reais e foi a curadora das exposições europeias da obra de Joe Sacco e de Marjane Satrapi. Enquanto curadora, dedica-se à promoção de artistas em risco. Recentemente, organizou as exposições de Zehra Doğan, Badiucao, e Victoria Lomasko.
Gianluca Costantini é um cartunista, jornalista humorístico e ativista italiano. Colabora com diversas publicações e é autor de várias novelas gráficas. É famoso pelos seus desenhos relacionados com campanhas de direitos humanos. Colabora com o Comité para a proteção de jornalistas, a ActionAid e a SOS Mediterrâneo. Em 2019, foi distinguido com o prémio para Arte e Direitos Humanos entregue pela Amnistia Internacional.