Com selo da Lilliput, chega a Portugal A inspiradora história de Aristides, escrito por Elizabeth Brown a partir de uma extensa pesquisa, e com as deslumbrantes ilustrações de Melissa Castrillón. Falámos com a autora para saber mais acerca das origens deste livro, publicado entre nós apenas um mês após a saída da edição original nos Estados Unidos.
O diplomata desobediente
Aristides Sousa Mendes (1885-1954) vivia na Casa do Passal, em Cabanas de Viriato, no concelho de Carregal do Sal, edifício que hoje alberga o Museu Aristides de Sousa Mendes. Durante a Segunda Guerra Mundial, exerceu o cargo de cônsul do governo português em Bordéus, França.
No site do museu, gerido pela Fundação Sousa Mendes, podemos ler que este espaço museológico «revela as múltiplas dimensões da história de um homem, que, enquanto Cônsul de Portugal em Bordéus, foi responsável, segundo Yehuda Bauer, por uma das maiores ações de salvamento individuais durante a II Guerra Mundial.»
Foi esta a história que Elizabeth Brown quis contar, recorrendo para isso a diversas fontes e extensa pesquisa: «Este livro demorou muito tempo a ser escrito, desde a ideia até à publicação. Foi o primeiro livro infantil que escrevi, mas na verdade é o quarto dos meus livros a ser publicado. Foi lançado em setembro de 2025 nos EUA. Descobri a história enquanto pesquisava ideias para livros ilustrados de não-ficção. Contactei a Fundação Sousa Mendes logo no início e fiz muitas pesquisas e muitos rascunhos da história, recorrendo a fontes primárias da fundação bem como textos adicionais que descobri ao longo do caminho.»
Ainda insuficientemente conhecida, a história do cônsul português que, ao longo de vários dias no ano de 1940, emitiu milhares de vistos, salvando assim as vidas de milhares de pessoas que tentavam escapar à perseguição nazi, é detalhadamente narrada neste livro dirigido aos mais novos. Dependendo da idade, poderá ser útil que um adulto acompanhe a leitura para orientar ou esclarecer dúvidas e questões que irão naturalmente surgir.
«Esta é uma história relevante para muitos acontecimentos do passado e também para muito do que está a acontecer atualmente em todo o mundo, e pode ajudar as crianças a compreender melhor estas situações. Espero que este livro ajude as crianças de hoje a perceber como uma pessoa pode fazer a diferença na vida dos outros.»
O rigor das fontes e da pesquisa foi uma preocupação constante da autora, ao longo dos vários anos que demorou a escrever o livro.
«Utilizei fontes primárias e outras informações da Fundação Sousa Mendes, bem como entrevistas, para investigar a história. O livro contém uma lista de todas as fontes e uma linha do tempo com mais informações sobre Aristides. Havia muito para descobrir durante a escrita do livro. Trabalhei na investigação e na escrita durante muitos anos. Garanti que cada palavra era perfeita, o que é muito importante para os livros infantis ilustrados, e que a história era agradável e compreensível para os jovens leitores. Sinto-me orgulhosa do livro finalizado e muito feliz por partilhar esta história com jovens leitores de todo o mundo.»
Quadros da vida bucólica e da guerra
As ilustrações de Melissa Castrillón trazem a esta obra uma beleza cheia de passado e melancolia. Do bucolismo da vida quotidiana na Casa do Passal aos ambientes de guerra e de perseguições aos judeus, perpassa ao longo do livro o apelo da memória, contra o esquecimento e a ignorância.
As cenas são vívidas, fazendo-nos viajar a cada episódio desta história cujo desfecho penalizou Aristides e a sua família, que foram castigados pelo governo português, proibidos de trabalhar e estudar. Mas o diplomata nunca vacilou: tinha feito a coisa certa.
«Aquele que salva uma única vida salva o mundo inteiro.»
— Talmude