Jon Fosse acaba de vencer o Prémio Nobel de Literatura. Trata-se do reconhecimento do percurso de um autor ímpar na literatura europeia e mundial, criador de um universo próprio e coerente em várias áreas da literatura. Alguém que, nas palavras do Comité Nobel, é capaz de dizer o indizível com a sua escrita. E de nos pôr diante do sublime.
A sua escrita é muito particular e inovadora, construída de modo a replicar o ritmo e a repetição de uma oração, trabalho de palavras que abre portas ao silêncio (dispositivo essencial para Fosse na dramaturgia). As características de construção que poderíamos apelidar de obsessivas fizeram com que Fosse contribuísse para inovar de forma vincada o conceito de romance, alcançando algo próximo de uma nova forma literária. Uma forma na qual a metafísica, a relação com o Tempo, a vida interior das personagens são especialmente marcantes.
Jon Fosse é um dos mais importantes e celebrados autores contemporâneos. Nasceu em 1959, em Strandebarm, no Oeste da Noruega. Escritor e dramaturgo prolífero, estreou-se em 1983 com o romance Raudt, svart [Vermelho, preto], tendo recebido vários prémios ao longo da sua carreira, entre os quais o Prémio Internacional Ibsen, o Prémio Europeu de Literatura e o Prémio de Literatura do Conselho Nórdico. A sua extensa obra, traduzida em mais de quarenta línguas, inclui romance, teatro, poesia, livros para crianças e ensaio. O Outro Nome – nomeado para o prémio Booker International 2020 – é o primeiro dos três volumes que compõem Septologia, a magnum opus de Jon Fosse, que se encontra disponível em português traduzido por Liliete Martins. Também já estão disponíveis Trilogia (tradução de Liliete Martins) e Manhã e Noite (tradução de Manuel Alberto Vieira).
A atribuição do Nobel de Literatura vem de facto reconhecer um percurso extraordinário, cujo caminho criativo irá continuar. A 6 de novembro, a Cavalo de Ferro, chancela de Jon Fosse em Portugal no campo do romance, irá publicar a segunda parte da consagrada Septologia – o volume O Eu é um Outro – a que se seguirão novos trabalhos no campo da ficção e do pensamento. Ou não fosse Jon também um ensaísta de mão cheia, além de autor de cerca de quatro dezenas de peças de teatro (estreadas entre nós, por exemplo, pelos Artistas Unidos) e de livros para crianças.
Parabéns, Jon Fosse. Que prossiga o caminho de contar o indizível.