Plano Nacional de Leitura
Literatura – dos 15-18 anos – maiores 18 anos
«Tranquei a porta e me olhei no espelho. Chorei mais um pouco e me perguntei por que eu era tão feia; por que meu cabelo era daquele jeito; por que eu era preta. E juro que, se pudesse, teria quebrado aquele espelho, teria sido violenta com aquela imagem que eu detestava, mas, em vez disso, preferi apenas morder meu lábio inferior até que ele sangrasse um pouco. […] Engoli o choro e a dor. Decidi que era assim que eu iria lidar com o sofrimento dali para a frente — não se empurra nenhuma mágoa para debaixo do tapete.»
Esta é a história de Estela, menina de família pobre e fragmentada — o pai está longe e a mãe trabalha de sol a sol para sustentar a família. A morte da avó, primeira perda entre muitas, traz à memória de Estela as lágrimas que derramou por um ovo caído de um ninho, pelo passarinho que não chegou a nascer. Percebeu então que o que queria da vida era ser filósofa. A vida de Estela decorre num quotidiano de violência, privação e desamparo, o quotidiano de todos os que não nascem privilegiados num país de enormes assimetrias. Contudo, com o espírito indómito de uma aprendiz de filósofa, não desiste de questionar o mundo e sonhar o caminho para a própria liberdade.
Tal como no inquietante O avesso da pele — romance vencedor do Prémio Jabuti e finalista dos Prémios Oceanos e São Paulo de Literatura —, Jeferson Tenório revela, em Estela sem Deus, a força de uma escrita de urgência, de compromisso e de beleza intemporal.
Os elogios da crítica:
«É a galope que a narrativa avança: frases curtas, capítulos breves, uma tensão que parece esticar as páginas quase até ao limite, prestes a rasgar. No início, Estela agarra-se às palavras sábias da sua avó Delfina, que entre outras coisas lhe ensina o que é a morte e o prazer de pensar. No fundo, vê nela uma filósofa e deseja também para si essa desmesura de procurar o entendimento do mundo.»
José Mário Silva, Expresso
«Os pensamentos de Estela sem Deus, tão presentes desde o início da sua trajetória, ganham a intensidade da fé e a desilusão de ver sua liberdade privada. Pode-se dizer que a liberdade é uma ambição da filosofia, e Estela vive em busca de ser livre. Livre para questionar, sentir prazer, procurar sua autenticidade e seu lugar.»
Djamila Ribeiro
«Assim como em O avesso da pele, o romance impressiona pela profunda meditação da protagonista, em um grande acerto de tom narrativo. Mais do que isso, a narração potencializa uma das mais fortes reflexões do livro: a observação nos torna filósofos.»
Estadão