O ilustrador italiano Marco Somà esteve em Portugal a convite do Braga em Risco – Encontro de Ilustração. O Quartel do Risco acolhe a exposição Verso L’Infinito, com uma série de trabalhos selecionados de vários livros do autor, vencedor do Prémio Hans Christian Andersen em 2019. Marco Somà tem três livros publicados na Nuvem de Letras: O Vendedor de Felicidade (2021), com texto de Davide Cali, No Momento Perfeito (2022), escrito por Susanna Isern, e Agora e Para Sempre (2024), de Chiara Lorenzoni. Em 2025, será publicado Quem sabe o que é a felicidade, com texto de Luca Tortolini. O seu trabalho tem sido reconhecido por vários prémios e distinções internacionais.
Como tem sido o teu percurso como ilustrador?
Tudo começou por volta dos meus 20 anos, quando descobri um concurso em que me pediam para criar uma imagem para um postal a partir de três linhas já desenhadas. Foi muito estimulante para mim ter de me envolver e contar algo através daquele simples desenho. Depois, à medida que me interessei mais pelo tema, descobri que também poderia ser uma verdadeira profissão. Comecei a frequentar livrarias e bibliotecas com cada vez maior assiduidade, a interessar-me pelos livros ilustrados e pelas suas potencialidades. Até que decidi matricular-me na Academia de Belas Artes para aprofundar os meus conhecimentos em história da arte e técnicas de pintura. Na Itália, naqueles anos, a ilustração não fazia parte dos programas académicos. Posteriormente, frequentei um mestrado em edição infantil na escola Ars in Fabula, em Macerata. As primeiras publicações chegaram nesses anos, mas o verdadeiro impulso veio com os meus dois primeiros livros ilustrados, dos quais ainda gosto muito: A Rainha das Rãs não Pode Molhar os Pés, escrito por Davide Calì para a Bruaà Editora e A galinha ruiva, escrito por Pilar Martìnez para Kalandraka.
Como é a tua relação com os autores dos textos?
Tenho uma boa relação de respeito e amizade com os autores dos textos que ilustro. Gosto de escolher com eles o texto certo que possa ajudar-me a destacar as características da minha forma de contar histórias. Geralmente, durante o trabalho, nunca comparamos notas porque acho muito importante que a visão do ilustrador não seja muito condicionada pela do autor. A beleza e a singularidade de um livro reside, justamente, na pluralidade de vozes com que uma história é contada. E o leitor, ao ler o livro, dará então a sua interpretação pessoal.
Já pensaste em escrever além de ilustrar?
Sim, mas acho que ainda não encontrei a história certa que gostaria de contar, não quero apressar. Enquanto isso, tenho muitos livros em preparação que terei de criar, e muitos compromissos como professor de ilustração que me manterão ocupado. Mas espero ser capaz de arranjar algum tempo precioso, mais cedo ou mais tarde, para desenvolver histórias pessoais.
Qual é «o poder narrativo das imagens», tema da tua masterclass no Braga em Risco?
A masterclass está particularmente focada na minha visão pessoal sobre o papel da ilustração nos livros e na minha forma de abordar um texto. Os pequenos detalhes e elementos ocultos que contam outra história, além da história «oficial» narrada pelo texto. Os diferentes níveis de leitura de imagens e a relação das imagens com as palavras.
Que significado e impacto teve na tua vida e carreira ter recebido o prémio Anderson?
O Prémio Andersen, vinculado à revista italiana Andersen, é um reconhecimento muito importante no meu país. É certamente um prémio que me ajudou a dar a conhecer o meu trabalho a editoras que ainda não me conheciam, bem como às livrarias e ao público em geral.
É a tua primeira visita a Portugal? Conheces o trabalho de ilustradores portugueses?
Sim, estou muito animado! Estou a acompanhar a comunicação do festival, Braga em Risco, e parece realmente maravilhoso. Gosto muito de publicar em português. Com referi, comecei a minha carreira numa editora portuguesa (Bruaa Editora) e numa editora espanhola, a Kalandraka, que também publica em português. Também adoro as publicações da Planeta Tangerina. Entre os ilustradores, aprecio muito o trabalho de Bernardo Carvalho, Madalena Matoso e Catarina Sobral, que conheci pessoalmente e respeito muito.