Vencedora do Prémio Literário do Conselho Nórdico na categoria de Literatura Infantojuvenil, a autora e ilustradora norueguesa Nora Dåsnes, nascida em 1995, estreou-se com Um Coração, Dois Caminhos, publicado pela Nuvem de Letras. Um diário gráfico terno e irónico sobre os «dramas» da pré-adolescência, baseado nas suas próprias memórias e experiências.
Quem é a Nora Dåsnes? Podes falar-nos um pouco sobre ti e sobre o teu percurso?
Sou uma autora e ilustradora norueguesa. Sempre adorei livros e banda desenhada. Quando era adolescente, decidi que iria tentar fazer dessa paixão a minha carreira. Fiz um bacharelato em Ilustração em Londres, e depois regressei a Olso para tentar a minha sorte com as editoras norueguesas. Até que uma delas perguntou se eu estaria interessada em fazer o meu próprio livro para crianças. Esse livro veio a ser Um Coração, Dois Caminhos.
Um coração, dois caminhos, que agora sai em Portugal, é uma belíssima novela gráfica, com a qual é fácil identificarmo-nos, seja em que idade for. Como surgiu este livro?
Muito obrigada! O livro surgiu a partir dos meus próprios diários e memórias do período entre os 10 e os 12 anos. Acho esta idade mesmo fascinante, pois é nesta altura, em grande medida, que descobrimos quem somos. Também me reuni com as minhas amigas dessa época para ouvir a versão delas acerca dessa fase. A história começou a tomar forma a partir desses apontamentos e esboços.
A Tuva, a Bao e a Linnéa estão todas no limiar da adolescência, mas vivem esta fase de formas diferentes. A Bao só quer brincar na floresta, a Linnéa já pensa em namoros, maquilhagem e sutiãs, e a Tuva fica dividida entre permanecer na infância ou juntar-se às meninas mais “maduras”. Como diz a Tuva, porque é que isto é tão difícil?! Tem de ser tudo um drama? 🙂
Infelizmente, acho que é difícil evitar o drama quando estamos a crescer. As pessoas crescem com diferentes ritmos e, por vezes, em direções diferentes. Pode ser duro descobrir que alguém que pensávamos conhecer mudou muito apenas no decurso de um verão. Mas esses conflitos fazem parte do crescimento. Espero que o livro mostre que, apesar de ficarmos muito zangadas e de cometermos erros, isso não tem de significar o fim de uma amizade.
A transição da infância para a adolescência, a entrada na idade adulta, amadurecer, envelhecer… Cada uma destas passagens traz a sua bagagem emocional e os seus sobressaltos. A literatura ajuda-nos a suavizar essa viagem?
A literatura ajudou-me muito ao longo dos altos e baixos do crescimento, sem dúvida. E ainda ajuda imenso! Quando as coisas se complicam, podemos acabar por nos sentir muito sozinhos, em especial enquanto somos jovens e tudo o que experienciamos é novo. Acho que os livros nos ajudam a ver que não estamos sozinhos, que outras pessoas sentem coisas similares. E, definitivamente, saber que as pessoas se identificam com as histórias que escrevi faz-me sentir menos sozinha.
A Tuva apaixona-se (como estava nos planos!). Mas por uma rapariga. Foi propositado para causar ainda mais dúvidas numa fase que por si só já é tão complicada?
Sim, quis mostrar que fazer planos no amor é complicado, mas também que ser diferente dos amigos pode tornar tudo ainda mais difícil. Além disso, quando era adolescente, nunca li histórias em que raparigas se apaixonavam por outras raparigas, embora eu própria tivesse passado por isso. Acho que a minha infância e adolescência teriam sido menos confusas se eu tivesse encontrado essas histórias aos 12 anos, em vez de ter de esperar pelos 19.
Vamos voltar a encontrar a Tuva e as amigas num próximo livro, desta vez focado na Bao. O que podemos esperar?
No próximo livro, a escola e a administração local decidem abater uma grande parte da floresta para construir um parque de estacionamento maior. A Bao vai ter de descobrir como fazê-los mudar de ideias, e como fazer com que os amigos e colegas a ouçam. É uma história sobre ativismo, mas também sobre amizade e descobrir como aproveitar a raiva para bons propósitos.
Ganhaste o Prémio Literário do Conselho Nórdico de Literatura Infantojuvenil, entre outros. Que significado têm os prémios para ti?
Os prémios que recebi ajudaram-me a ter uma confiança muito maior no meu trabalho. Fazer arte pode ser assustador e vulnerável. E não é propriamente um trabalho estável. Ter esse tipo de reconhecimento significa muito. Mas tenho o mesmo tipo de sensação calorosa quando me chegam mensagens dos meus leitores, que por vezes se dão ao cuidado de enviar e-mails de várias partes do mundo. De cada vez que uma das minhas histórias faz sentido para alguém, a sensação é como receber um prémio.
Tens um diário?
Escrevo um diário quando tenho muitas emoções para processar! Tenho escrito recentemente, porque me apaixonei novamente, e é tão assustador e confuso como da primeira vez. Apesar de eu ter agora 28 anos e a Tuva 12. Um diário ajuda!
Obrigada pelo trabalho incrível com o livro, adorei folhear a edição portuguesa quando a recebi!
Hilsen Nora