Louis Menand é um professor de Harvard e colunista da The New Yorker habituado a fazer a garimpagem de pensadores, criadores e figuras que marcaram a história do pensamento no Ocidente. Galardoado com o prémio Pulitzer pelo livro The Metaphysical Club, uma história do grupo que deu corpo ao conceito de pragmatismo na América, Menand volta à carga com O Mundo Livre, volume finalista do National Book Award e verdadeiro acontecimento literário – pela escala e pelo número de protagonistas envolvidos. Gente que moldou a Cultura (com C maiúsculo) e o pensamento do século transato, consolidando a afirmação americana no mundo.
Galeria incomparável de personalidades
Escrito como um romance com centenas de personagens, O Mundo Livre descreve e analisa então as causas da afirmação dos Estados Unidos no panorama cultural do Ocidente, do final da Segunda Grande Guerra até ao desfecho da Guerra do Vietname, período que fez parte da chamada Guerra Fria.
Da literatura, da música, das artes plásticas e performativas, das ciências ao cinema, de James Baldwin, Jasper Johns, Andy Warhol, Elvis Presley, Susan Sontag e Simone Bauvoir a Hollywood, nenhuma personagem ou tema relevantes, nenhum facto ou curiosidade de relevo escapam à narrativa lúcida e envolvente de Menand, neste livro saudado pela crítica internacional como «uma lufada de ar fresco» e uma obra «brilhante, absolutamente original e bem escrita» que oferece ao leitor o mosaico completo do pensamento e da arte do Ocidente no século XX.
É possível apreciar a densidade de pensamento de Isaiah Berlin ou Hannah Arendt, ao mesmo tempo que nos podemos deliciar com detalhes pícaros da vida pública de grandes artistas – nota máxima para o humor dos The Beatles – ou com a radicalidade artística de figuras como John Cage ou Robert Rauschenberg. Em O Mundo Livre ficamos a entender a forma como estas personalidades moldaram a vida de todos os dias a partir das suas criações, das suas provocações, da forma como entenderam o mundo que os precedeu e o como propuseram novas visões para o mesmo. Para usar um chavão estafado desta época, a forma como pensaram fora da caixa. Fosse ela caixa de música ou caixa de detergente Brillo.
Um caldo de cultura à americana
Estamos habituados a lidar com o conceito de melting pot para ilustrar as virtudes da sociedade americana – aforma como receberam, absorveram e potenciaram comunidades muito distintas. O termo terá começado a ser usado de forma corrente a partir da estreia de uma peça de teatro com o mesmo nome, corria o ano de 1908; peça essa que relatava a vida de um judeu russo imigrado nos Estados Unidos. No caso deste volume único de Louis Menand, a fusão dá-se sobretudo ao nível das ideias e da experimentação intelectual. Municiados por milhares de migrantes fugidos a II Guerra Mundial, os EUA acabaram por beneficiar em larga escala da presença de grandes figuras das mais diversas áreas da criação e da investigação. Por lá, encontraram o ambiente propício e os incentivos para mudarem o mundo, ao mesmo tempo que o crescimento económico (e demográfico) do pós-guerra ajudavam a talhar o mundo de outra forma. E no entanto, Louis Menand não faz de porta-estandarte das maravilhas americanas: a espaços, avaliação dos fracassos dos Estados Unidos é, pelo menos, incisiva. Mas o seu ângulo mais importante neste volume, respaldado por uma pesquisa capaz de tirar o fôlego a qualquer um, é que a cultura americana ascendeu nesta época pelas razões certas. Nas palavras do próprio, “As ideias eram importantes. A pintura era importante. O cinema era importante. A poesia era importante”. Ontem, hoje e agora.