Os 3 objetos da vida de Juan Gabriel Vásquez

As memórias dão vida às mais pequenas coisas, aquelas que parecem perdidas no meio de uma estante ou esquecidas no roupeiro. É assim para todos nós, que nos apegamos a peças cuja história muitas vezes só nós conhecemos, e é assim também para Juan Gabriel Vásquez.

Pedimos ao escritor colombiano que escolhesse os três objetos que mais significado têm na vida dele e que nos explicasse o motivo. O que têm em comum um casaco, um anjinho de plástico e uma menora? Histórias fascinantes contadas pelo próprio autor de Olhar para trás e O barulho das coisas ao cair.

Este casaco pertenceu a Francis Laurenty, em cuja casa nas Ardenas belgas morei durante nove meses, entre janeiro e setembro de 1999. Ele e a mulher, Suzanne, acolheram-me num momento difícil da minha vida e estarei sempre grato. Nos meses frios, durante aquela época e depois, sempre que os visitei, Francis pedia-me para ir com ele colher cogumelos na floresta ou ver como estavam os cavalos. Às vezes eu saía sozinho para passear durante longos minutos e resolver problemas, ou chegar mais perto de resolvê-los, e em todos esses momentos este casaco protegeu-me do frio cortante das Ardenas.

Quando cheguei a Barcelona, em outubro de 1999, o meu amigo Enrique de Hériz tinha acabado de se mudar para um novo apartamento e passei algumas semanas lá enquanto procurava o meu próprio apartamento. O Enrique sempre gostou de dizer que este anjinho de plástico era a única coisa que existia no apartamento vazio quando ele se mudou. Guardou-o até à sua morte prematura em março de 2019. Em minha casa há muitos objetos que mantêm o Enrique vivo na minha memória. Este é um deles.

Se tivesse que escolher apenas um dos meus livros, talvez fosse Os informadores, pois foi o romance que me fez descobrir as minhas obsessões ou no qual descobri como transformá-las em literatura. Por outras palavras, ao escrever aquele romance, descobri que tipo de romancista queria ser. E a origem de Os informadores foi uma conversa que tive com uma mulher alemã e judia que conheci em Bogotá: Ruth Frank. Um dia, muitos anos depois de ter lido o romance que usou a vida dela e de nos termos tornado amigos, ofereceu-me esta menora que tinha estado em casa dela durante décadas. Tenho-a entre os meus livros, num lugar muito visível.

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