Os Kim: uma questão de família nuclear

A Irmã traz-nos a história extraordinária de Kim Yo-jong, a mulher mais poderosa da Coreia do Norte. Cortesia do ditador e irmão mais velho Kim Jong-un.

 

O contexto

 

O regime norte-coreano já durou mais tempo do que a União Soviética – decisiva para a sua criação em meados do século XX –, apesar das dificuldades económicas, das violações dos direitos humanos, do isolamento internacional e, por vezes, das rivalidades familiares complicadas. E por vezes mortais.

Apadrinhado por Estaline, o fundador da dinastia que continua a controlar a metade norte da península coreana, Kim Il-sung, estabeleceu um regime sem par na atualidade, entre propaganda cerrada, mão de ferro governamental e escassez de informação para quem faz parte dos meandros do regime e da família. Entretanto, numa escalada política e bélica, a Coreia do Norte tornou-se uma potência nuclear com pouco freio, situação que tem levado quase toda a gente a lidar com aquele país de uma forma, para dizer o mínimo, cautelosa. Isto enquanto a família chegava à terceira geração de líderes. Aos comandos, está Kim Jong-un, neto de Kim Il-sung, um homem cuja data de nascimento é incerta, um dos muitos indícios da opacidade do clã. Entretanto, num contexto dominado pelos homens da família, algo parece estar a mudar.

Em 2022, num discurso particularmente inflamado, Kim Yo-jong, irmão mais nova do Líder Supremo Kim Jong-un, ameaçou bombardear a Coreia do Sul, lembrando ao mundo o perigo que a Coreia do Norte representa. Neste momento, Yo-jong parece estar a assumir um papel cada vez mais importante na dinastia – tendo já feito parte de ofensivas de charme/diplomáticas – baralhando inclusive as contas da sucessão. Mas como se chegou aqui? Como é que a filha mais nova de Kim Jong-il, a sua «doce princesa» se tornou a implacável propagandista, a administradora interna e a responsável pela política externa do regime totalitário do irmão?

O livro

Escrito por Sung-Yoon Lee, estudioso e especialista em história e política coreana, A Irmã revela a verdade sobre Kim Yo-jong, o seu vínculo estreito com o irmão, e as lições de manipulação que ambos aprenderam com o pai. Um retrato da mulher que pode, um dia, ter nas mãos a sobrevivência da dinastia de déspotas que governa um dos mais enigmáticos países asiáticos.​ Este é um olhar único sobre um dos regimes mais fechados do mundo, com destaque para uma das personagens mais enigmáticas da vida política norte-coreana. Uma vida que é feita de muitas manobras, simbolismos, chantagens e coregrafias bélicas e políticas medidas ao milímetro.

Acresce que num dos regimes mais tradicionais e patriarcais do mundo, é uma mulher que se assume como forte candidata a liderar o país no futuro (que poderá estar próximo, a acreditar nos rumores de doença do atual líder), relegando os filhos de Kim Jong-un, sobre os quais se sabe muito pouco, para o segundo plano. A Irmã não só se foca  na ascensão de Kim Yo-jong, como também traça um panorama geral da linha dinástica que governa a Coreia do Norte, permitindo compreender melhor o intricado esquema de sucessão, traição e punição do regime, num contexto internacional cada vez mais complexo. E perigoso.

O autor deste livro revelador, Sung-Yoon Lee, é fellow do Woodrow Wilson International Center for Scholars. Anteriormente, lecionou História e Política coreana na Fletcher School, Tufts University. Ao longo da sua carreira, escreveu sobre a política internacional da península coreana e do nordeste asiático para numerosas publicações, incluindo os jornais The New York Times, The Wall Street Journal e The Washington Post. E através dessa experiência tornou-se conselheiro de altos funcionários e políticos eleitos dos Estados Unidos, país fundamental no xadrez geopolítico do Extremo Oriente.

As soluções para o mundo não vêm nos livros, mas volumes como A Irmã ajudam a compreendê-lo melhor.

 

 

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