Antes da notícia, recuemos um pouco: tudo começou com uma ideia de um coletivo de artistas. Ou melhor, tudo começou com a Constituição fascista, que deu corpo ao regime do Estado Novo ao longo de décadas. Orgulhosamente sós. Orgulhosamente corporativos. Orgulhosamente censores. Essa Constituição entrou em vigor a 11 de abril de 1933, faz agora 90 anos. Mas o projeto desta Reconstituição Portuguesa não esperou por este género de efeméride.
Recomeçando: inspirados na técnica de blackout poetry – uma forma de poesia visual que trabalha entre rasuras e destaques sobre textos já criados/publicados, criando novos significados – um coletivo de poetas e ilustradores liderado por Viton Araújo e Diego Tórgo aplicou o infame lápis azul dos coronéis sobre as palavras da referida Constituição fascista de 1933, até que dela se erguessem, apenas, poemas e ilustrações exaltando os valores de Abril. De Abril de 74: humanidade, liberdade, justiça, igualdade.
Em março de 2022, dobrámos o tempo da Ditadura. Finalmente, os dias em Democracia (17500) superavam os dias vividos sob o jugo da sua Némesis. Mais dias de liberdade do que de autoritarismo. Ocasião perfeita para assinalarmos esse facto com um exercício de criatividade poética que celebra um sonho e constrói um futuro: o da liberdade plena. É desse sonho que se alimenta a Reconstituição Portuguesa, que nunca está terminada. Daí esta ocupação do espaço público.
Este projeto artístico e político desconstrói então o texto de 1933, distorcendo e subvertendo as suas palavras, imprimindo-lhe a mesma técnica de censura (rasurar, ocultar) que o Estado Novo exerceu sobre as liberdades dos cidadãos portugueses; desta feita, até restar apenas a mensagem de Abril.
«Caminhos da Liberdade», nome da iniciativa que agora se inaugura, celebra o Dia da Liberdade e dá a conhecer, em 25 estações do Metro de Lisboa, 25 páginas do livro Reconstituição Portuguesa. Numa parceria MOP/Penguin Random House, o 25 de Abril é celebrado no Metro de Lisboa com uma exposição que revela ao público em geral algumas das páginas do livro Reconstituição Portuguesa, publicado há exatamente um ano pela Companhia das Letras/Penguin Random House.
Vencedor do Grand Prix do CANNES LIONS, este projeto continua a ter destaque mundial em prémios de criatividade e design, nomeadamente no festival Clio, El Ojo, Mad Stars, The One Show , Eurobest, EPICA Awards e London International Awards. Mas mais do que isso: este projeto continua a ser um manifesto político e artístico ímpar em defesa da Liberdade. Agora, ao alcance de mais e mais cidadãos que se movem numa cidade muito diferente daquela que se fechava sobre si própria na primeira metade do século XX.
A exposição tem início no dia 19 de abril, e estende-se até ao dia 26.