Tess Gunty: uma estreia premiada, acabada de chegar

Radiografia cáustica da vida contemporânea, eis uma história que põe a nu o esqueleto da natureza humana e a fragilidade dos laços sociais.

O contrário de nada, obra de estreia da norte-americana Tess Gunty, é um prodigioso romance de estreia, distinguido com o National Book Award, e acabado de chegar às livrarias portuguesas.

 

O livro

«Faca, algodão, casco, lixívia, dor, pelo, beatitude: enquanto sai de si mesma, Blandine é tudo isto. É cada morador do seu prédio de apartamentos. É lixo e querubim, um chinelo no leito do oceano, o fato-macaco cor de laranja do pai, uma escova a passar pelo cabelo da mãe. […] Um núcleo dentro do homem que lhe roubou o corpo quando ela tinha catorze anos, um par de óculos vermelhos na cara da sua bibliotecária preferida, um rabanete arrancado de um canteiro. Não é ninguém.»

Eis Blandine, a magnética protagonista de uma história povoada de estranhas figuras: um redator de epitáfios online, uma jovem mãe com um segredo, uma mulher que trava sozinha a sua guerra contra roedores, um filho ingrato, três rapazes enfeitiçados pela mesma rapariga. A todos sucede alguma catástrofe, para quase todos está reservada uma promessa de libertação. São vizinhos, e vivem num complexo habitacional de baixo custo – Rabbit Hutch – em Vacca Vale, cidade em decadência. É a partir deste lugar inóspito que Tess Gunty conduz o leitor numa invulgar viagem pelo desconcerto do espírito humano, pelas grandes doenças sociais e pelo alcance incomensurável da imaginação. Uma estreia literária arrebatadora, que inscreve a autora na mítica linhagem do Grande Romance Americano.

Na influente The New Yorker, fala-se de «uma análise da decadência urbana que, apesar das preocupações sociais, é capaz de preservar a individualidade das personagens; o brilho excêntrico de Blandine é fundamental nesta proeza», trazendo-se assim à liça a matéria-prima mais importante deste romance fulgurante de estreia: a capacidade de contar-nos e de encontrar pontes com os leitores, independentemente da geografia, do quotidiano e das condições sociais. É um romance universal feito de pequenas histórias de vida, carregadas de indecisão, de dúvidas, de uma busca por um sentido que nem sempre é óbvio (como na nossa existência de todos os dias). Aqui há crueldade, há amor, não há sentimentalismo, não há nada de gratuito. Tess Gunty põe-nos ao espelho, na América como noutros lugares; e ainda está só a começar.

 

A autora

Tess Gunty nasceu em 1993, em South Bend, Indiana, e vive em Los Angeles. Foi neste estado do chamado rust belt, lugar de decadência económica e operária, que Tess criou uma cidade imaginária para o seu romance de estreia. Tess estudou Inglês e Escrita Criativa em duas universidades distintas – licenciou-se na Universidade de Notre Dame com um Bacharelato em Inglês e na Universidade de Nova Iorque, tendo concluído um Mestrado em Belas Artes, na especialidade Escrita Criativa. O seu trabalho tem sido publicado em prestigiadas revistas literárias norte-americanas, como a Los Angeles Review of Books. O contrário de nada é então o seu romance de estreia e foi distinguido em 2022 com o National Book Award, um dos mais relevantes prémios literários da atualidade, chancelando assim de forma ímpar a sua primeira ofensiva literária. Tess Gunty tornou-se, assim, na mais jovem escritora a receber este galardão desde 1960, ano em que foi atribuído a Philip Roth. O contrário de nada recebeu também o Barnes and Noble Discover Prize e o VCU Cabell First Novelist Award, e foi finalista do National Book Critics Circle Award, do Mark Twain American Voice in Literature Award e do British Book Award for Debut Fiction.

Incluído pela The New Yorker na sua lista de “Doze Leituras Essenciais”, este romance arrebatou ainda a distinção de Melhor Livro do Ano em meios de comunicação como The New York TimesTIMELiterary HubChicago TribuneKirkus, NPR, Oprah Daily e People. Está prevista a sua publicação em cerca de quinze países. Agora, chegou a vez das leitoras e leitores portugueses.

 

 

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