Uma carta de Joël Dicker aos leitores

No início de 2024, foi publicado o meu sétimo romance. Passavam doze anos sobre o início da minha carreira de escritor, com o sucesso do livro A verdade sobre o caso Harry Quebert.  

 

Que balanço fazer destes doze anos? 

Muitas das livrarias que me convidavam nos primeiros tempos foram fechando portas. As que se mantiveram viram-se obrigadas, para sobreviver, a acrescentar às suas prateleiras objetos de todo o tipo, sem ligação com a literatura. Nos autocarros, no metro, nos comboios e aviões, as pessoas ficam cada vez mais presas aos ecrãs dos seus telemóveis, renunciando, em muitos casos, à felicidade da leitura durante esses trajetos. 

 

Devemos assumir que está em curso uma redução substancial do número de leitores? Ou será que simplesmente nos deixámos todos fascinar de tal maneira com as redes sociais e os seus algoritmos diabólicos, que esquecemos o facto de eles agirem sobre o nosso espírito como as máquinas dos casinos, sugando-nos, em vez de dinheiro, a nossa energia, o nosso tempo e a nossa atenção? Esses ecrãs omnipresentes fizeram com que renunciássemos ao gesto de olhar à nossa volta, de confraternizar, de nos informarmos, para mergulharmos mais e mais na subjetividade, quando não no solipsismo.  

 

Apesar de vivermos num mundo cada vez mais polarizado e dividido, por causa da nossa incapacidade de levantarmos a cabeça dos telemóveis para vivermos melhor em conjunto, continuo otimista e cheio de esperança, porque, em doze anos, houve uma coisa que não mudou. Livro após livro, e em países do mundo inteiro, encontrei, nas minhas sessões de autógrafos nas livrarias, centenas de leitores entusiastas com perfis muito diferentes. O denominador comum entre todos esses leitores? Não existe, justamente! Há jovens, velhos, leitores de um livro por semana ou de um livro por ano. De todas as origens, de todas as crenças, de todas as convicções, de todas as opiniões. Crianças, pais, avós. Com véu, com kippa, com turbante, com piercings, com tatuagens, vestindo fato e gravata. Marginais e originais. Pessoas que parecem estar em extremos opostos, mas que, dentro de uma livraria, confraternizam na fila. 

 

Vi estabelecerem-se ligações, nascerem amizades, números de telefone trocados, apertos de mão, grandes abraços. É este o verdadeiro sucesso dos livros. Não dos meus livros em particular, mas dos livros. Reconciliar as pessoas, permitir o encontro umas com as outras, a descoberta mútua. Eis o poder da literatura. 

 

O que me toca mais, quando regresso ao contacto com os meus leitores, são as leituras em conjunto e partilhadas, na família, entre amigos, nos clubes de leitura. Com Uma catastrófica visita ao zoo, que acaba de ler, tentei modesta e humildemente escrever um livro que pudesse ser lido e partilhado por todos os leitores, sejam eles quem forem, estejam onde estiverem, entre os sete e os cento e vinte anos. Um livro que possa ler com os seus filhos, o seu par, os seus pais, os seus vizinhos, os seus colegas.  

 

Um livro que possa dar vontade de ler, de fazer com que os outros leiam, sem distinção. E que permita que nos encontremos. Que nos encontremos a sério.  

J. D. 

 

Sobre o livro

Joël Dicker oferece-nos agora o seu livro mais surpreendente e transversal

O Natal está à porta. Para assinalar o fim das aulas, a turma de Joséphine faz uma visita de estudo ao jardim zoológico. Porém, o passeio, que tinha tudo para ser divertido, rapidamente se precipita numa catástrofe. Que aconteceu ao certo? Porque se revestem todos os acontecimentos de um secretismo absoluto? Os pais de Joséphine, que parece saber muita coisa, não desistirão enquanto não descobrirem a verdade. E perceberão, pelo caminho, que uma catástrofe nunca vem só, que as aparências iludem e que qualquer história pode tomar rumos imprevisíveis. Vários anos mais tarde, Joséphine, já adulta, decide contar tudo num livro.

Com o mistério a manter o leitor em tensão da primeira à última linha, Uma catastrófica visita ao zoo é um romance comovente e cheio de humor, que aborda temas universais como a democracia, a inclusão e as relações entre pais, professores e jovens, urdido com a mestria e a precisão narrativa a que Joël Dicker nos habituou, desta vez com ingredientes que podem seduzir leitores de todas as idades.

 

 

 

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