Uma rentrée para o melhor dos tempos e para tempos melhores

Entre estreias e aguardados regressos, as propostas da Penguin RandomHousepara os últimos meses do ano incluem algumas das vozes mais aclamadas do nosso tempo, livros que são fruto do seu tempo, livros para refletir enquanto é tempo, e clássicos intemporais. Novos títulos de autores nacionais, como João Tordo, Ricardo Adolfo ou Ana Margarida de Carvalho, que se estreia na Companhia das Letras; obras de escritores consagrados, como Juan Gabriel Vásquez, CarmenMaria Machado, JonFosse ou ÉdouardLouis; a chegada de YanisVaroufakise SlavojŽižekà coleção Objetivamente; uma portentosa investigação jornalística sobre a extrema-direita em Portugal; e ainda o regresso de Nuno Markl e um autoretratode Dino D’Santiago, e edições tão ecléticas como o volume comemorativo dos 75 anos dos Peanuts ou o aguardado lançamento, pela Distrito Manga, da anime SailorMoon–em português, Navegantes da Lua.

 

FICÇÃO LINGUA PORTUGUESA

Acabado de publicar em Portugal, Os substitutos marca a estreia de Bernardo Carvalho na Companhia das Letras. Mas não é o único. A premiada escritora e jornalista Ana Margarida de Carvalho também se estreia, na mesma editora e ainda em setembro, com A chuva que lança a areia do Saara, um romance de fulgor inédito, repleto de personagens ímpares. Já Daniel Jonas mostra-nos a sua arte na prosa em A justa desproporção. Aos quatro romances de Clarice Lispector lançados em janeiro pela Companhia das Letras, somar-se-á, em outubro, A legião estrangeira: treze contos e um conjunto de crónicas, ensaios e textos híbridos, num volume que recupera a primeira edição concebida pela autora, antes de ser dividida em dois pelos editores. Entre os autores nacionais, há importantes regressos ao romance: o de Ricardo Adolfo que, após doze anos de interregno, conduz os leitores numa viagem única pelos subúrbios de Tóquio, à boleia de uma sucursal da máfia yakuza, em A chefe dos maus, e o de João Tordo, com Inventário da solidão. Na Suma de Letras, Ana Portocarrero publica o seu primeiro e divertido romance, A (in)felicidade de Sara Lisa, Alex Couto escreve – no estilo que lhe é habitual – sobre um presidente da câmara que quer vender Lisboa aos ricos em Os periquitos somos nós, e Miguel d’Alte publica o policial Todas as Famílias Felizes.

 

FICÇÃO ESTRANGEIRA

Juan Gabriel Vásquez é um dos grandes escritores de língua espanhola da atualidade. A vida da escultora colombiana Feliza Bursztyn, que Gabriel García Márquez afirmou ter morrido «de tristeza», é o ponto de partida para uma fusão de biografia e invenção que resulta no seu novo romance, Os nomes de Feliza. À Alfaguara regressam também, já no próximo mês, Carmen Maria Machado, com o multipremiado Na casa dos sonhos, um livro de memórias absolutamente revolucionário sobre o seu relacionamento perturbador e asfixiante com uma mulher carismática, e Héctor Abad Faciolince, que em A hora da nossa morte, relata a sua própria história após sobreviver a um ataque russo na Ucrânia que vitimou, em seu lugar, a escritora ucraniana Victoria Amélina, com quem Faciolince trocara de assento à mesa momentos antes.

Em setembro, na Cavalo de Ferro, destaque para Labirinto à beira-mar, um volume de luminosos ensaios de Zbigniew Herbert, publicados postumamente, e o novo romance de Irene Solà, que virá ao festival FOLIO apresentar Dei-te olhos e viste as trevas, inspirado na História, na geografia, nas tradições e no folclore catalão. Outubro traz continuidade à publicação dos romans durs de Georges Simenon com A casa dos Krull, o inédito em Portugal de Péter Nádas, O fim de um romance familiar, o romance mais recente de Lázsló Krazsnahorkai, «mestre húngaro do apocalipse» segundo Susan Sontag, e cujos guiões resultaram em várias adaptações cinematográficas por Béla Tarr, e ainda o primeiro romance de Jon Fosse após a atribuição do Prémio Nobel de Literatura, Vaim. Pela Elsinore, saem, para além das reedições de A guerra não tem rosto de mulher e Vozes de Chernobyl: História de um desastre nuclear, de Svetlana Alexievich, O colapso, a mais recente obra de contornos autoficcionais de Édouard Louis, que se debruça sobre a sua relação com o irmão mais velho, morto precocemente aos 38 anos, e, em novembro, Atlas de ilhas remotas, uma viagem ilustrada a cinquenta mundos longínquos pela aclamada escritora alemã Judith Schalansky.

 

NÃO-FICÇÃO

Setembro arranca com uma portentosa investigação jornalística de Miguel Carvalho que revela a face oculta da extrema-direita em Portugal, publicada pela Objectiva. Por dentro do Chega é um retrato do partido com recurso a milhares de páginas de documentos inéditos e largas dezenas de entrevistas exclusivas com fundadores, financiadores, atuais e antigos dirigentes e militantes. Em outubro, sai Uma mão humana forrada a veludo, homem!, o novo livro da já histórica rubrica O Homem Que Mordeu o Cão, de Nuno Markl. Nele se reúnem algumas das melhores histórias dos últimos cinco anos, numa edição especial forrada a veludo, com ilustrações do autor em cada capítulo.

O filósofo esloveno Slavoj Žižek, um dos grandes pensadores contemporâneos, usa em Contra o progresso o estilo provocador que lhe é característico para questionar criticamente como podemos libertar-nos dos futuros imaginados por neoliberais, populistas e aceleracionistas e tentar, efetivamente, construir um futuro melhor. Yanis Varoufakis é economista e foi ministro das finanças do governo grego em 2015. Em Tecnofeudalismo – Ou o fim do capitalismo explora os perigos da concentração do poder nas grandes empresas tecnológicas que escravizam as nossas mentes e redesenham o mapa geopolítico. No livro 25 de novembro, e a propósito dos 50 anos desse polémico momento na política nacional, o escritor e repórter Paulo Moura traça a cronologia e a história do dia que deixou Portugal à beira da guerra civil.

Cicatrizes é o autorretrato emocional de Dino D’Santiago que sai pela Arena. Trata-se de um conjunto de textos e ilustrações do autor com reflexões sobre temas tão diversos como liberdade, bem-estar, saúde mental, superação, condição feminina, paternidade, ou mesmo a sua carreira musical, e a relação com Deus.

 

BD E MANGA

Em outubro, a Iguana assinala o 75.º aniversário da publicação da primeira tira dos Peanuts com O indispensável do Snoopy, de C.M. Schulz. Uma edição que reúne as melhores tiras diárias e dominicais em mais de 350 páginas. Antes disso, ainda há lugar para a estreia de R.G.B., uma artista visual que reuniu uma série de histórias reais de abusos e assédios a que as mulheres estão sujeitas em Manda mensagem quando chegares, a nova novela gráfica da multipremiada autora sul-coreana Keum Suk Gendry-Kim, O meu amigo Kim Jong-un, ou a intemporal história de Lewis Carroll, Alice no país das maravilhas, ilustrada pela surpreendente artista pop de renome mundial Yoyoi Kusama.

Nas edições da Distrito Manga, destacam-se os primeiros volumes do reconhecido The Ghost in the Shell, de Shirow Masamune, inspirado por obras cyberpunk do final dos anos 1980, como Akira, e por filmes como Blade Runner, e popularizado pelo filme de 2017 com Scarlett Johansson no papel principal, e de Sailor Moon – em português, Navegantes da Lua, um anime de grande sucesso em Portugal desde os anos 90 até aos dias de hoje, da autoria de Naoko Takeuchi.

 

LITERATURA INFANTOJUVENIL

No segmento infantojuvenil, a Booksmile continua a destacar-se na publicação de autores nacionais. Nuno Caravela, o autor «1 milhão de livros», traz uma nova e hilariante coleção do universo d’ O Bando das Cavernas, intitulada O Bando dos Renováveis. Na não-ficção, os psicólogos Rute Agulhas e Pedro Aires Fernandes apresentam um diário terapêutico para Adolescentes s(em) Rede. E a professora Elsa Rodrigues propõe uma iniciação à Filosofia para os mais pequenos. Na coleção de educação sexual Menstruita, chega a vez dos rapazes e das suas mudanças corporais, em especial a primeira ejaculação (O Teu Corpo de Rapaz É Fixe). Em novembro teremos o 20.º volume da coleção bestseller mundial O Diário de um Banana, de Jeff Kinney.

A Fábula publica diversos álbuns e narrativas de autores e ilustradores premiados, com destaque para Sydney Smith (Lembras-te?) e David Cirici (Musgo). A chancela dá também continuidade à edição das obras de Afonso Cruz para os mais jovens, com Os livros que devoraram o meu pai e Assim, mas sem ser assim.

Pela Nuvem de Letras vamos poder ler a nova história de Capicua para os mais pequenos, Como é que um caracol foge de casa?, sobre o problema tão premente da habitação. Isto para além de várias coleções premiadas, obras distintas (Fronteiras e A inspiradora história de Aristides) e edições notáveis, incluindo de clássicos, como As Aventuras de Alice no País das Maravilhas.

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