Reconhecida pelo trabalho que desenvolve na publicação de livros infantis de não-ficção de autores nacionais, pensados de raiz para as crianças e jovens portugueses, a Booksmile acaba de lançar dois livros importantes que, juntos, fazem a ponte entre a infância e a adolescência, estimulando valores tão importantes como a curiosidade, o pensamento crítico, a autonomia, o autoconhecimento, a empatia e a autoestima.
Da filosofia para os mais pequenos, num livro que desperta para as grandes questões (que começam sempre por perguntas simples) a um diário terapêutico para adolescentes imersos num mundo digital que não dá tréguas, trata-se aqui de apostar em ferramentas e recursos para um desenvolvimento pessoal e socioemocional saudável.
Conhece-te a ti mesmo
Num mundo polarizado, onde reina a desinformação, e com a atenção das crianças cada vez mais fragmentada, tentar captar os mais novos para a filosofia soa a missão impossível. Nada que intimide Elsa Rodrigues, professora no ensino secundário e na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, habituada a desinquietar as mentes jovens com perguntas sem respostas definitivas. À questão de saber para que serve a filosofia defende que «serve para sermos senhores de nós mesmos e vivermos uma vida boa». Não é coisa pouca.
«Neste livro vais encontrar algumas dessas respostas, mas, acima de tudo, encontrarás o convite para fazeres o que os filósofos fizeram antes de ti: pensares por ti mesmo, colocares questões e não teres medo de duvidar daquilo que te dizem ou mesmo daquilo em que acreditas.», lemos na introdução de Filosofia: Um Livro Que Dá Que Pensar!, ilustrado por Rita Antunes.
As crianças e os jovens têm uma predisposição para a filosofia e para a inquietação. «Crescer é adquirir o conforto das certezas. A iniciação à filosofia desde cedo permite que a inquietação se mantenha, que seja um modo natural de estar na vida e no mundo, e mostra às crianças e jovens que não estão sozinhas nas suas questões, mas que estão acompanhadas por grandes pensadores de todas as épocas.»
A Liberdade, o Bem, a Verdade, Deus, o Tempo e outros conceitos esmagadores que não conseguimos escrever em letra minúscula são abordados neste livro, recomendado a partir dos 12 anos (mas acessível a mentes inquietas antes disso) de forma cativante, com exemplos práticos e dilemas interessantes.
Acima de tudo, procura-se estimular a clareza do pensamento, a organização das ideias e do discurso, e incentivar a dúvida e o juízo critico. «A filosofia fornece dois instrumentos fundamentais para pensar corretamente, que são a lógica e a argumentação que quanto mais cedo forem introduzidas nos currículos mais poderão contribuir para a correção do pensamento e clareza do discurso.»
Os desafios do mundo contemporâneo assim o exigem e filosofar sempre faz parte da natureza humana. Ficamos a conhecer o pensamento dos principais filósofos e descobrimos que as grandes interrogações permanecem essencialmente as mesmas: Como viver e agir bem? Como ser justo e verdadeiro?
«Os temas escolhidos seguem uma lógica interna que começa com a questão de saber o que faz de nós o que somos e termina com a morte. Pelo meio são abordados temas relativos à ação (Liberdade, Bem), ao mundo (Realidade, Tempo e Espaço) e ao modo como pensamos e conhecemos a realidade (Pensamento, Lógica, Verdade) e nos relacionamos com o que a ultrapassa (Deus e o Mal). Tentei, deste modo, cobrir as várias esferas da existência humana e as principais questões que a Filosofia colocou ao longo da história», explica a professora.
Tanto as crianças como os pais e os professores poderão beneficiar desta jornada, como salienta: «As crianças e os pais que já se esqueceram ou que nunca gostaram muito de Filosofia podem esperar o mesmo: uma viagem guiada pelas grandes questões da filosofia e pelas respostas dadas pelos grandes filósofos das várias épocas, que é também uma descoberta do próprio pensar. Para os professores, independentemente do ciclo de ensino ou da área disciplinar, julgo que poderá ser uma boa ferramenta pedagógica que promove o espírito crítico e o pensamento lógico.»
Sem rede ou apanhados na rede?
O corolário «conhece-te a ti mesmo» aplica-se igualmente ao diário Adolescentes (s)em Rede, dos psicólogos e psicoterapeutas Rute Agulhas e Pedro Aires Magalhães, que propõe a escrita terapêutica, ou seja «o poder que a escrita tem de nos ajudar a compreender melhor e a resolver algumas questões dentro de nós mesmos.»
Ao longo deste «diário orientado», ilustrado por Diana de Oliveira, sugerem-se exercícios práticos, como questionários sobre determinado tema, que ajudam a refletir, a aprofundar e consolidar conhecimentos.
A estrutura do livro replica o universo digital e as redes sociais, que tanto atraem os jovens, por vezes de forma ambígua, pois são simultaneamente fonte de gratificação e ansiedade. Assim, existem quatro separadores diferentes a explorar: «o meu perfil» (quem sou), «a minha rede» (as pessoas mais importantes na família, na escola e entre amigos), «o meu histórico» (momentos marcantes da vida) e «publicações futuras» (ligado ao projeto de vida).
Nas páginas de abertura existe também uma mensagem dirigida aos pais, que alerta para a importância de respeitar a privacidade e a autonomia dos jovens, e praticar a chamada escuta ativa. Escutar tanto o que é dito como o que é silenciado. E estar muito atento a sinais de alerta de sofrimento psíquico, como perturbações do sono, alterações de humor, isolamento social, entre muitos outros.
A caminhada de autoconhecimento e descoberta começa logo ao virar da página.