Plano Nacional de Leitura
Literatura – Maiores de 18 anos
«Mathilde envelhecera […]. A pele do rosto, constantemente exposta ao sol e ao vento, parecia mais grossa. A testa e os cantos da boca estavam cobertos de rugas. Até o verde dos seus olhos perdera o brilho, como um vestido usado demasiadas vezes. Engordara. Para provocar o marido, num dia de calor abrasador, pegou na mangueira do jardim e, debaixo do nariz da criada e dos trabalhadores, regou-se da cabeça aos pés. As roupas colaram-se-lhe ao corpo, deixando ver os mamilos eretos e o velo púbico. Nesse dia, os trabalhadores rezaram ao Senhor, passando a língua entre os dentes enegrecidos, para que Amine não enlouquecesse.»
1968, Marrocos: Mathilde, alsaciana, e Amine, oficial do Exército marroquino, são um casal com uma longa história atrás de si e um incerto futuro pela frente, à imagem do país onde vivem. Esta é a história de uma família hesitante entre a tradição e a modernidade, protagonizada por uma mulher enredada entre duas culturas, sufocada pelo conservadorismo do país onde escolheu viver e pidida entre a dedicação à família e o amor à liberdade. É também a história de um país que acabou de conquistar a independência e que procura o seu lugar, entre o espartilho religioso e o fascínio pelo Ocidente, entre a repressão e o hedonismo.
Leïla Slimani, uma das vozes mais importantes da literatura francesa, regressa à história da própria família para construir um romance cheio de personagens inesquecíveis e imagens fortes. Retratando um tempo e um lugar em que ressoam os ecos do Maio de 68 e as mulheres encetam o pedregoso caminho da emancipação, a escritora reafirma a sua impressionante destreza narrativa e o olhar clínico sobre a intimidade.
Os elogios da crítica:
«O mundo deste romance – Marrocos depois da Segunda Guerra Mundial, e a luta pela libertação do colonialismo francês – está magistralmente criado. A vida pessoal, a vida social, a vida de todos os dias saltam da página, plenas de vivacidade, e sentimos as dores da família apanhada no meio do conflito da História. Um romance excecional e poderoso, de uma escritora justamente aclamada.» — Salman Rushdie
«Uma impressionante epopeia, tão política quanto humana, que se debruça sobre os tormentos de uma ex-colónia francesa largada à sua sorte e onde cada um tenta encontrar o seu lugar, numa sociedade que oscila entre a decomposição e a recomposição.» — Libération
«Um imenso fresco íntimo e político sobre a história de Marrocos, narrando os anos de chumbo que se seguiram ao fim do domínio francês. O segundo volume de O país dos outros difunde toda a sua luz.» — Les inrockuptibles
«Slimani é excelente a identificar a verdade oculta dos sentimentos e os múltiplos compromissos a que uma cultura repressiva obriga as pessoas, em particular as mulheres. O país dos outros é um romance escrito com inteligência e talento.» —Expresso
«Uma virtuosa contadora de histórias. A condição social das mulheres, os abismos da alma humana, as fraquezas e as contradições da sociedade, são os seus temas favoritos. A que juntou agora o colonialismo.» — Público