Separados pelo abismo da memória, pai e filha reencontram-se a bordo do Proleterka. Numa metáfora de todas as travessias, Fleur Jaeggy analisa a «proximidade profunda e fatal» que os une, e traz à tona os inquietantes despojos de um naufrágio íntimo.
«Uma escritora magnífica, brilhante, selvagem.» Susan Sontag
«As crianças desinteressam-se dos pais quando são abandonadas. […] Com determinação, sem tristeza. Tornam-se alheias. Por vezes, hostis. Já não são elas os seres abandonados, mas são elas que batem mentalmente em retirada. E vão-se embora. Em direção a um mundo sombrio, fantástico e miserável. E, no entanto, por vezes exibem felicidade.»
Esta é a história de uma viagem que cruza os mares da Grécia, ou pelo menos da recordação dessa viagem, filtrada pelo tempo. Johannes e a filha conhecem-se mal e mantêm uma relação distante. Reencontram-se no Proleterka, e procuram aí remediar um hiato sem remédio, recompor uma história de família, alimentar uma ideia de amor. Sobre eles, paira contudo a sombra de episódios passados, fragmentos espectrais que não chegam a diluir-se. É então que esta travessia se transforma numa outra: somos levados, pela mão da protagonista, à descoberta do prazer e do desejo, sem o filtro do interdito, sem o limite da convenção.
Viagem no Proleterka — tal como Felizes anos de castigo — mergulha no núcleo da inquietação, tome esta a forma de uma mãe gélida, ou de um pai desconhecido, ou de um marinheiro impetuoso. Da escrita fulgurante de Fleur Jaeggy, ninguém sai incólume.
Os elogios da crítica:
«A caneta de Fleur Jaeggy é como a agulha de um entalhador a desenhar as raízes, os galhos e os braços da árvore da loucura — uma prosa extraordinária.» Joseph Brodsky
«Fleur Jaeggy possui o invejável dom do olhar inaugural sobre as pessoas e as coisas, entretecendo uma mistura de frivolidade circunstancial e sabedoria absoluta.» Ingeborg Bachmann
«As frases de Fleur Jaeggy […] assemelham-se mais a pedras preciosas do que a matéria carnal. As imagens surgem como clarões, descontínuas e impressionantes, antes de desaparecerem.» Sheila Heti
«Ler Fleur Jaeggy assemelha-se a mergulharmos nus num roseiral negro, de tal modo ficamos perplexos perante tamanha beleza: é um gesto veloz e espinhoso, e emergimos do lado de lá cobertos de sangue.» The Paris Review
«Uma escrita de pequena escala, intensa, impecavelmente incisiva.» The New Yorker
«Tal como quase todas as assombrações, os livros de Fleur Jaeggy […] lançam um estranho feitiço.» The New York Review of Books
«Este romance é uma lição magistral sobre distanciamento, timidez, morte e ‘rancor insone’.» TANK
«Viagem no Proleterka revela um lugar estranho e compacto, onde o tempo volteia e as perspetivas se transformam: um universo fechado, com uma harmonia particular.» Frieze
«A intensidade das palavras de Fleur Jaeggy irrompe por entre as costuras das suas frases breves.» The Spectator