Cultivou uma escrita provocadora e muitas vezes considerada imoral e atentatória dos bons costumes; libertou a linguagem de espartilhos formais; misturou a ficção mais desabrida com a biografia confessional mais comovente e o lirismo sempre latente: resgatada da marginalidade nos anos recentes, Hilda Hilst tem arrebatado os leitores e a crítica. A sua voz hipnótica não deixa ninguém indiferente.
Neste livro – composto por histórias escritas ao longo de onze anos, várias das quais até agora inéditas em Portugal – somos iniciados nos temas de eleição de uma escritora inquietada e inquietante: o sexo, a insanidade, a relação com o pai, as escolhas da mulher numa sociedade castradora, o lugar da escritora num panorama impreparado para a receber.
«Fico pensando em todos os motivos que levam de repente uma pessoa a escrever e penso que a raiz disso em mim está na vontade de ser amada, numa avidez pela vida. Quem sabe também se não é uma necessidade de viver o transitório com intensidade, uma força oculta que nos impele a descobrir o segredo das coisas. Uma necessidade imperiosa de ir ao âmago de nós mesmos, um estado passional diante da existência, uma compaixão pelos seres humanos, pelos animais, pelas plantas.» – Hilda Hilst
Inclui A obscena senhora D; Com os meus olhos de cão; Rútilo nada (Prémio Jabuti); e a chamada «trilogia obscena», composta por O caderno rosa de Lori Lamby, Contos d’escárnio e Cartas de um sedutor.
Os elogios da crítica:
«É na prosa de Hilda Hilst que a exploração do desconhecido ganha inusitada violência poética, sem paralelos na literatura brasileira. […] Aceitando o desafio de percorrer as dimensões mais persas da língua, sua obra – a um só tempo humilde e corajosa – atende sem cessar ao apelo febril do último verso de suas Alcoólicas: ‘Estilhaça a tua própria medida.’» — Eliane Robert Moraes
«Gosto de pensar no trabalho de Hilda Hilst como um instante sutil de apagamento das fronteiras entre os gêneros literários. […] E, como Catulo e Beckett, Hilst é uma escritora do riso angustiado. Pois é uma angst/angústia que perpassa toda a obra de Hilda Hilst, na qual a carnalidade e mortalidade humanas são reconhecidas, mas estão longe de serem aceitas.» — Ricardo Domeneck, revista Modo de Usar & Co
«Há um caminho ainda não trilhado na leitura interpretativa de Hilda Hilst que precisa ser seguido: aquele aberto por uma voz feminina que, mobilizando o melhor da tradição lírica ibérica, busca no canto canônico formas de se impor em um domínio antes tão masculino.» — Luisa Destri, Folha de S. Paulo
«O erotismo, na prosa de Hilda Hilst, conduz sobretudo a uma experiência de destruição e catástrofe que é indissociável da ideia de verdadeira criação.» — Alcir Pécora
«Hilda é um desses autores que reinventam a linguagem, invertendo-a, esgarçando o que parecia já de todo moldado.» — Carola Saavedra
«Um dos movimentos mais encantadores da escrita de Hilda: sua capacidade de desmistificar os mistérios. O desconhecido talvez nunca deixe de sê-lo, mas é imperativo interrogá-lo na nossa casa, nos nossos termos.» — Daniel Galera