«Foi, até certa idade, a minha história: uma juventude fértil em paixões, sem Deus e sem pecado; a sensação de ser fêmea sempre presente; uma necessidade involuntária de seduzir; a volúpia de me ver sempre através de olhos diferentes. E o que hoje penso é que uma mulher pode fazer amor com quantos homens queira, contanto que não o faça por falta de amor-próprio.»
Nápoles e Lisboa. O fim da juventude e o começo da idade adulta. Uma mulher entre dois países e entre duas idades: assim é Ana, moderna nas liberdades do corpo e anacrónica no que lhe alimenta o espírito. Lavores de Ana, história de uma travessia, é também um divertimento: seduz o leitor com cenas entre amantes, passeios de motoreta no Verão meridional e vistas bucólicas para o Vesúvio; serve-se da mística da viagem, do louvor da feminilidade, da simplificação da liberdade; joga ardilosamente com a sobreposição dos nomes próprios de autora e narradora.
E, contudo, sabemos que autora e narradora não coincidem, que o delírio amoroso esbarra em famílias conservadoras ou na falta de dinheiro, que as festas pagãs não bastam para calar sermões de padres ou comentários de vizinhas. E sabemos que a liberdade, para as mulheres, tem o tempo contado. Não sabemos, no entanto, quem é Ana.
Auspiciosa estreia de Ana Cláudia Santos na ficção longa, Lavores de Ana equilibra-se magistralmente entre o clássico instantâneo e a condição volátil de um sonho inventado.
Os elogios da crítica:
«Ana Cláudia Santos disseca a experiência de viver (em) Nápoles, dominada pela pergunta: a quem pertences? [A narradora] está toda ela do lado da voz baixa, da contenção, do desânimo. O desejo sexual é aqui abordado com tanta intensidade quanto pudor. E a questão angustiosa da gravidez manifesta-se, em certa medida, como subjugação social da feminilidade à maternidade.»
Pedro Mexia, Expresso
«O leitor [fica] no meio, não de um, mas de vários trânsitos que acompanha como quem assiste a um filme: deixando-se levar. Só assim capta a sensualidade da narração, o fio erótico, antimoralista, deste fluxo de histórias que resgata ‘uma juventude fértil em paixões, sem Deus e sem pecado’ […] Um pequeno romance onde o jogo entre o desenho feliz e o fundo bordado a cor escura traça as linhas rigorosas de um belo livro da ficção portuguesa contemporânea.»
Gustavo Rubim, Público
«Entre Nápoles e Lisboa, o fim da juventude e a infertilidade, Lavores de Ana é o testemunho do ‘prazer de estar viva’, com todas as suas complexidades. Um romance que é também uma celebração das palavras, dominadas pela autora com a mesma precisão dos bordados que Ana aprende com as mulheres da família.»
Ana Dias Ferreira, Observador
«Um daqueles livros de estreia que não enganam: o anúncio de uma escritora inteira.»
Bruno Vieira Amaral
«A escrita de Ana Cláudia Santos sabe o segredo tão difícil da simplicidade. Leva-nos pelas feridas da beleza e do desalento como se não fosse nada. E, no silêncio que se abre entre duas línguas, duas palavras, dá-nos a ver a cidade que ficou para trás e a mulher que ficou para a frente.»
Jacinto Lucas Pires