«Pensas numa linha direita, mas a tua mão fá-la torta. A linha para que olhas agora foi a tua tentativa de a fazer direita. Mas como é torta faz-te imaginar coisas. Desenhas o que imaginas ver.»
Esta é uma história habitada por um núcleo mínimo: uma mãe e um filho cujos encontros passam a ser escrupulosamente programados; em lampejos, surge a neta/filha, que encontramos no exacto lugar da procura de si. A mãe está num lar. O filho, em cada visita que lhe faz, reconstrói uma memória e habitua-se aos novos dias e a cada despedida. Nestas páginas, há uma mão que desenha depressa, e outra que pensa e escreve. Há desenhos em quadrados, como uma melodia em compasso binário.
Este núcleo mínimo ocupa um espaço amplo: a cidade e seus subúrbios. António Jorge Gonçalves descreve uma cartografia enigmática: não sabemos se é dele a presença fantasmagórica, ou se é da própria cidade, despovoada.
O caminho de volta é um mapa do que nos inquieta na paternidade, na doença, na morte, nos dias que passam. O jogo está também aqui: nos desenhos e nas palavras, há pistas, perplexidades, sustos. E tudo isto é devolvido ao leitor, para que ele trace o seu percurso.
Os elogios da crítica:
«O caminho de volta […] subtilmente fala sobre família, tempo e ausência. […] Em 2024, a mãe passou a viver num lar por questões de saúde. ‘No dia em que foi para o lar, dei comigo a fazer isto: Todos os dias desenhava seis quadrados no meu caderno, com imagens do que eu via durante esse dia, sem pessoas’. O caminho de volta é uma escolha de muitos desses desenhos, feitos antes ou depois das visitas ao lar, captando detalhes da paisagem urbana, prédios, jardins, uma janela, uma escadaria, ou o interior de uma casa, tudo isto unido por breves textos em letra manuscrita. […] Este livro não é um diário. É uma conversa do autor consigo mesmo, a partir daquele acontecimento familiar, da mãe no lar, que atravessa a narrativa como ‘um rio subterrâneo’.»
Sílvia Borges da Silva, Lusa / Público
«A banda desenhada [Dita Dor] que António Jorge Gonçalves criou a partir das suas memórias de infância antes do 25 de Abril é uma preciosidade com muitas camadas de leitura, um espelho duplo a desafiar o abismo do tempo, colocando o olhar de um adulto projectado no seu próprio olhar infantil e recriando os últimos anos de ditadura a partir do que não compreendia, sempre alimentando um agudo desejo de liberdade.»
Sara Figueiredo Costa, Expresso
«Em Subway life, António Jorge Gonçalves coleccionou os retratos da sua passagem pelas cidades como quem colecciona momentos num diário: recordando-se das cores das roupas que vestiam os passageiros, apontando os dias da semana em que encontrou aquelas pessoas assim como as frases que lhe disseram. […] A sua função era olhar — com o treino, de cidade para cidade, cada vez se concentrava menos no desenho e mais na pessoa. Tinha, em média, 5 a 8 minutos. Não dava tempo de pensar no estilo, mas era tempo suficiente para sentir que tinha, de alguma forma, tido um encontro com aquela pessoa.»
Susana Moreira Marques, Público