No Japão, uma rapariga suicida-se na noite de Natal, atirando-se de uma janela do seu local de trabalho, a principal agência de publicidade do país. No mês anterior, tinha cumprido 105 horas extraordinárias.
Em Lisboa, uma agência de publicidade decide adotar uma inovadora estratégia japonesa de despedimento: os colaboradores que estão na calha para ir para a rua são convidados a desempenhar o papel de carrasco e escolher entre si quem deverá ser despedido. Um jogo ingrato e perigoso, que transforma a empresa num campo de batalha.
Entre mortos e feridos, ninguém se salva: multiplicam-se as intrigas e os golpes baixos, formam-se alianças improváveis, desperta um romance escaldante, e até ocorre um homicídio bizarro.
«Nessa tarde soube que fazia parte de um lote de funcionários a dispensar da agência de publicidade onde trabalho. Melhor dizendo, somos seis funcionários e um de entre nós vai ser despedido, seremos nós a decidir qual. Acreditam nisto? Eu também não acreditei, mas parece que é verdade —veio cá a diretora de recursos humanos explicar que esta estratégia tem sido utilizada com sucesso no Japão. Está bem, abelha. Como se os japoneses, com aqueles roupões esvoaçantes, tivessem parecença alguma com os tugas, máquinas de drenar sangue fervente.»
Os elogios da crítica:
«Um sulfuroso retrato do mundo laboral contemporâneo e do quotidiano urbano do século XXI. (…) Lúcido, implacável, feroz, escrito com estupenda desenvoltura verbal, Olho da rua situa-nos num mundo regido pelo capitalismo do descartável e instala-nos em plena selva.» — Teresa Carvalho, Jornal i
«Possivelmente o romance que, não sendo diretamente político, se constitui como a narrativa mais política publicada em Portugal nos últimos tempos, prognosticando o futuro abertamente neoliberal para que Portugal se encaminha nas próximas décadas. (…) Romance escrito numa linguagem coloquial, informal (…) aborda com mestria o universo das relações sociais e sentimentais no seio de um grupo fechado, fazendo lembrar por vezes a escrita de algumas autoras da década de 50 e 60, como Isabel da Nóbrega e Fernanda Botelho. (…) Com o segundo romance (sempre mais difícil do que o primeiro), ganhou carta de alforria, isto é, o direito de ser referida como um dos novos escritores portugueses de qualidade.» — Miguel Real, Jornal de Letras
«Uma observação microscópica do mundo do trabalho e das suas desumanidades.» — Luís Ricardo Duarte, Visão
«Retrato cru mas humorístico da realidade laboral dos nossos dias. Em Olho da rua a antiga jornalista escreve com um humor a roçar por vezes a ferocidade sobre a realidade laboral do nosso tempo, num retrato que, embora não pretenda ser um tratado sociológico, apresenta semelhanças com a atualidade.» — Sérgio Almeida, JN