«A memória é um quarto desarrumado. Visito memórias tentando não as tirar do seu lugar, uma ordem com regras que intuo que existem, mas que não reconheço. É impossível não dar uma nova ordem às memórias, uma disposição sempre criativa porque nasce em cada visita que lhes faço. Está tudo escrito. Escrever de novo, outra vez, é uma resposta possível ao impulso de contar.»
Fios de malha e uma viagem a casa; anéis perdidos e aventuras na Grécia; cadernos interrompidos e o mapa do quotidiano; um missal e visitas a museus; jogos de tabuleiro em família e partidas de futebol na cidade; álbuns de fotografias, um jazigo, dois naufrágios, o corpo materno e o corpo que escreve: Saber perder é a colecção privada dos lugares que Margarida Ferra escolheu convocar para o seu primeiro livro de prosa.
Uma teia delicada, por vezes inquietante, que nos conduz por entre as fendas da escrita, entrecortada pelo fio da vida. Uma escrita que encontra forma na penumbra de noites de insónia, nas escassas pausas que o dia-a-dia concede, no silêncio breve de uma casa quase nunca vazia. Margarida Ferra tem a habilidade rara de nos levar para junto da janela de sacada onde se senta a compor as ideias e memórias que povoam o seu mundo, afinal nosso também. Eis um convite à leitura do que nos aproxima e da nossa própria intimidade, vistos ao espelho de inquietações que partilhamos. Retrato de um modo de vida contemporâneo, onde tudo parece fugaz e poroso, Saber perder é uma arte contra o esquecimento de si.
Os elogios da crítica:
«Ao descrever este mundo, aqui e agora, Saber perder mostra que a literatura é muito mais do que a criação de novos mundos. Como num exercício de juntar pontos, em que traço e realidade se fundem, Margarida Ferra ensaia um retrato dos dias em que o mais importante é a memória que fica deles. De uma delicadeza e lucidez preciosas, este é um livro para guardar e voltar a ele de cada vez que duvidarmos da capacidade da escrita para salvar um pouco da vida que passa.»
Susana Moreira Marques
«Se a viagem é uma antiga metáfora para a ideia de trajetória de vida, e se todo o livro é de certo modo uma viagem, Saber perder recorda-nos que os significados que isolamos desses caminhos podem por vezes ser surreais e, por isso mesmo, fazer o mais profundo sentido.»
Tatiana Faia
«A delicadeza é, talvez, a primeira impressão que se tem dela, um aroma subtil. É tentador usar as metáforas botânicas, mas esta autora não tem a simplicidade do malmequer branco. A sua espécie é outra, trepadeira de aparência inofensiva que, pela calada, vai subindo, enrolando o braço vegetal, uma escalada em surdina — até que, um dia, alguém abre a janela e depara-se com uma paisagem diferente, rasa ao peitoril.»
Sílvia Souto Cunha, Visão(sobre Curso intensivo de jardinagem)
«Prescrições, instruções, ‘receituários’ são, neste contexto, formas engenhosas de exprimir um esforço de autoconhecimento onde se notam inquietações íntimas e uma certa desarrumação emocional.»
Henrique Manuel Bento Fialho(sobre Sorte de principiante)