20 anos, 20 livros de João Tordo: uma celebração

20 anos / 20 livros. O 20.º romance com o mesmo cenário que deu corpo ao primeiro. Podíamos dizer que foi estratégia, foi engenho, mas a verdade é que foi uma casualidade. Num almoço, alguém pergunta: “mas quantos são, já?”

 

 

Esta quinta-feira, no café Brooklyn, entre os retratos de figuras como Miles Davis, Nina Simone ou Woody Allen, foi apresentado O nome que a cidade esqueceu, o tal novo romance de João Tordo. Mas mais do que isso, celebrou-se um caminho. Entre família, amigos, leitores, o autor foi capturado do seu refúgio solitário de escrita sem saber ao que ia.

 

No início, um elogio fúnebre. Isso mesmo. Pela primeira vez o autor havia recorrido ao ChatGPT para ajudar as suas sobrinhas, Luísa e Mercês, numa simples tarefa: descrever o tio. E ontem foram elas que abriram o alinhamento da sessão, lendo esse detalhado e elogioso texto sobre o tio-escritor, homem generoso e sensível, amante da natureza, e de quem todos sentiam muita falta, uma vez que já tinha morrido.

 

Depois da hilaridade geral, graças aos equívocos da Inteligência Artificial, abriu-se o espaço para a apresentação de O nome que a cidade esqueceu com Clara Capitão, que nos falou sobre esta história «de resgate à solidão», um «João Tordo no seu melhor registo», que nos leva de volta à cidade que nunca dorme, Nova Iorque, cenário de estreia do autor –com O livro dos homens sem luz –, para nos mostrar quem está nas suas sombras.  Editora do autor na Companhia das Letras desde 2013, Clara Capitão falou-nos dessa relação de trabalho e amizade, de consolo e luta, de abraços. E pese embora a dedicação às palavras, aqui foram os números que impressionaram: 10 anos de trabalho, 14 livros, mais de 5500 páginas, mais de 10 milhões de caracteres, mais de 150 mil livros vendidos. Razão para se dizer com legitimidade, é obra!

 

Alavanca para muitos jovens escritores, os jornalistas foram um pilar no percurso literário de João Tordo. Por isso ontem foi chamada para dar o seu testemunho a jornalista da Rádio Renascença Maria João Costa, que por várias vezes entrevistou o escritor, e que nos falou em particular da generosidade do autor em partilhar o seu ofício, seja em livros como Manual de sobrevivência de um escritor, seja em cursos de escrita.

 

 

Não será novidade que o João faz milhares de quilómetros anualmente para encontros com leitores, e são eles o motor fundamental para este caminho. Mas mais surpreendente é quando são os próprios leitores a fazer centenas de quilómetros para encontrar o autor em diferentes pontos do país. É o caso de Lúcia Fonseca, que nos contou as razões para João Tordo ser o seu escritor preferido. Criadora do movimento #Tordismo, juntamente com o leitor Bruno Ramos, Lúcia contou-nos como descobrir os livros do autor foi um fator de amparo e companhia em momentos difíceis da sua vida. E prometeu, depois da t-shirt e do boné, novo merchandising #Tordismo para a próxima Feira do Livro de Lisboa.

 

Seguiu-se Pilar del Río, uma das pessoas que votou para que, em 2009, o romance As três vidas fosse galardoado com o Prémio José Saramago. Na votação, disse “Há um escritor”, e ontem confirmou-o: «pode acontecer haver um livro bom, mas que o autor fique por ali. Mas aqui não. Havia uma arte, uma mestria, uma imaginação, uma capacidade de efabulação, um estilo literário que é improvável num escritor tão jovem.»

 

Por último, nas surpresas, lugar a quem esteve no início: a família. E foi desse porto seguro que Jorge Marecos falou. O irmão mais novo de João Tordo contou como havia sido com ele que descobrira o significado da palavra «empatia», de que o irmão é um exemplo.

 

No final, o protagonista desta nossa história. João Tordo (vivo, ufa!) fez o agradecimento ao público e retribuiu a homenagem, reforçando a dívida que tem para com os leitores, sem os quais não teria havido motivação para chegar aos 20 livros. E prometeu que, felizmente, mais virão.

Abraços, brindes, autógrafos. Ontem marcou-se o início de um ano de celebração de 20 anos/20 livros. E embora o número nos pareça demasiado redondo, são mesmo momentos como os desta quinta-feira que nos mostram que neste caminho parece estar tudo certo.

 

      

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