Lúcia Vicente: «Este livro marca muito a minha própria desconstrução de pensamento»

Acaba de chegar às livrarias a edição revista, aumentada e mais diversa do livro que homenageia algumas das portuguesas que ajudaram a mudar mentalidades e a transformar a nossa sociedade. O novo livro PORTUGUESAS COM M GRANDE soma nove mulheres às 42 da primeira edição, e reflete a preocupação de incluir uma maior diversidade, com mais pessoas racializadas e maior representatividade no campo da identidade de género e da orientação sexual. É isso que nos conta Lúcia Vicente, a autora do texto, complementado pelas ilustrações de Cátia Vidinhas.

 

Porquê uma nova edição deste livro? O que vem acrescentar?
Sendo que a primeira edição esgotou no ano passado, decidimos que era a altura perfeita para fazermos uma nova edição, em vez de seguirmos simplesmente para a segunda edição. Uma nova edição de Portuguesas com M Grande deu-nos a possibilidade de corrigir alguns erros, ao nível da linguagem utilizada por exemplo, e acrescentar mais nove portuguesas. Este livro marca muito a minha própria desconstrução de pensamento e uma nova edição trouxe a possibilidade de incluir uma maior diversidade no livro, introduzindo mais mulheres racializadas que foram marcantes para a nossa cultura e vem acrescentar isso mesmo: uma nova forma de olhar para quem são as Portuguesas.

 

Queres destacar alguma das novas mulheres representadas? Alguma que seja especial para ti?
Esta é uma pergunta muito difícil de responder, porque as cinquenta portuguesas que estão no livro são todas muito especiais. Gosto muito da Severa pelo que representa: uma mulher racializada, cuja imagem foi totalmente branqueada pelo regime fascista e que, finalmente, podemos resgatar das sombras na sua totalidade. Admiro especialmente a Olga Mariano pelo trabalho que desenvolve junto da comunidade cigana, e a Júlia Mendes Pereira pela coragem que tem em expor a sua história e em normalizar os corpos e a presença das mulheres trans em Portugal.

 

Que outras mulheres ainda ficaram de fora, mas gostarias de ter incluído?
Ficam sempre tantas de fora! Podia ficar o resto da minha vida a acrescentar mulheres a este livro. Gostava de ter incluído a Maria Gil, atriz e ativista feminista cigana, a Cristina Roldão, socióloga, a Leonor Teles, cineasta, a Judith Teixeira, poeta modernista, a Noémie Freire, primeira submarinista portuguesa, ou a Vanessa Fernandes, atleta de triatlo. A lista é demasiado grande, felizmente, existiram e existem muitas portuguesas com M grande.

 

Que luta eleges para este Dia Internacional da Mulher, nomeadamente nas escolas?
Tal como as portuguesas que ficaram de fora desta edição, as lutas ainda são muitas. Escolho a revisão dos manuais escolares — urgente e que tem de ser profunda — para que todas as crianças e identidades de género apareçam representadas e sejam desconstruídas as normativas de género nas escolas, que são profundamente estruturais. Era também importante a introdução de mulheres pioneiras e feministas nos manuais de História, para que se percebesse a sua importância e contributo para a sociedade. Mudava tanta coisa nos manuais escolares.

 

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